GUARDA - REDES

Artigo de opinião publicado em 10/09/2011 no Jornal i e autorizado a postar pelo autor, que embora tenha como destinatário o GR de futebol, entendo que se adequa plenamente ao GR de futsal.

“ Uma posição especial ”

SABEMOS QUE de todos os jogadores de futebol, o guarda-redes, por ocupar uma posição especial e pelas condições singulares da sua prestação, é aquele que acusa mais stress. Ao contrário dos companheiros, que podem ver um eventual erro ser remediado, neste caso o erro é “a morte do artista” e por isso o guarda-redes está submetido a uma permanente tensão emotiva,

PERFIL. É um jogador que para além de especiais capacidades morfofuncionais, tem de possuir uma visão analitica correcta das situações de jogo, análise do espaço (posicionamento de colegas e adversários), boa leitura de jogo, bom sentido de ordenação e correcção para soluções emergentes, quer na organização defensiva, quer na organização ofensiva, assumindo por vezes a função de primeiro atacante.

No que respeita às qualidades psicológicas, é preciso referir, sem dúvida, a capacidade volitiva (tomada de decisão, disponibilidade para o esforço, perseverança); capacidade atencional (concentração permanente); capacidade perceptiva (raciocinio, imaginação e alta capacidade de coesão e liderança pelo baluarte que representa para o sucesso ou insucesso da equipa).

CULPA. O futebol como modalidade de desporto colectivo é aquela cujo resultado mais acusa uma imprevisibilidade. A emoção, o golpe de génio, o imponderável, são substratos que alimentam a magia de um resultado. Quando há uma derrota, um golo falhado pode ser esquecido, enquanto que um “frango” do guarda-redes é sempre o primeiro retrato na janela do balneário.

TREINO. Em termos de treinabilidade, para além da força, agilidade, destreza, técnica, etc, é preciso ir ao encontro do que chamo “uma Nova Visão Global do rendimento para a obtenção do sucesso”. E, neste caso especifico do guarda-redes, ir ao encontro do seu perfil e do modelo de jogo da equipa. Avançar com metodologias que muitas vezes têm de promover quando necessário a autoconfiança do atleta, assegurando-o e encorajando-o na capacidade de ser bem sucedido. Outras vezes, quando imperativo, treinar a motivação – formulando-lhe objectivos dificeis e desafiadores mas realistas. Ainda, outras tantas, operacionalizar técnicas de redução do stress e simulando condições adversas passiveis de descontrolo emocional.

SUCESSO. Entendo que o perfil dum guarda-redes de sucesso tem de possuir as qualidades referenciadas aliando a persistência, humildade e perseverança para ouvir e se necessário corrigir. Deve transpirar rigor e aproveitar toda a sua energia ao serviço do colectivo de que faz parte, assim está encontrado o líder, o campeão!

Mas nunca devemos esquecer, no treino como na vida, o primado da consciência. Hoje sabemos que em termos de treino a visualização criativa dos gestos técnicos faz aumentar o efeito expoenciador da eficiência prática e daí o passo para a felicidade do atleta. Ora, isto TREINA-SE, mas neste âmbito ainda reina muita miséria, para não chamar “santa” ignorância !...
Citando o Prof. Júlio Garganta “ As metodologias inovadoras ainda acusam um sentido critico para aqueles que julgam que no Futebol...tudo está inventado”

Autor: José Neto
Lic. Ed.Fisica U.Porto (1976/81)
Mestre Psicologia Desportiva U.Minho (1994/97)
Formador/Instrutor UEFA Barcelona (1998)
Doutor em Ciências do Desporto/Futebol Univ.Beira Interior (2007/2011)
Docente Universitário

FUNÇÃO ESPECIFICA DE GUARDA-REDES

A situação, posição e regras especificas no regulamento do jogo, possibilita  que tenha um tratamento especial.

Podemos entendê-lo como o primeiro atacante e o último defesa.

Jogando na sua área é o único jogador a quem é permitido tocar a bola com as mãos.
As suas acçoes técnicas como último jogador defensivo, fazem com que as suas intervenções sejam em muitos casos, determinantes em função da eficácia da equipa.
É uma função altamente valorizada na equipa. É o único jogador que não pode falhar.
Costumamos dizer que um bom GR é meia equipa.
Por vezes, quando a equipa está sujeita a uma grande pressão, é ele com um lançamento ofensivo que facilita a saída para o ataque e quiçá, converter numa assistência para golo. 

Nenhuma outra posição no futsal exije que o atleta seja tão especialista como a de GR, no entanto, apesar de ser um especialista na posição que ocupa, ele deve também ser um jogador de múltiplas funções na equipa.
Tem de defender, atacar, estimular, avisar, comandar, etc., mas isso não é tudo, dele se exije ainda muitas outras qualidades, onde se destacam a velocidade de reacção, a coordenação, o fecho do ângulo, a defesa e o lançamento, finalmente o perfeito controle emocional.

Qualidades

O perfil do GR em função das exigência do jogo pode-se definir do seguinte modo :
  
De carácter -

  • Valentia
  • Decisão
  • Psicológicamente forte e equilibrado
  • Comunicativo

Neurológicas –

  • Agilidade, coordenação e percepção espaço temporal
  • Agressividade, como atitude mental e fisica nas suas intervenções
  • Tempo de reacção, intercepção e velocidade de execução, são qualidades
reclamadas face ao ao imperativo de tempo



Físicas –

  • Velocidade
  • Elasticidade e flexibilidade
  • Instantâneidade

FUNDAMENTOS TÉCNICOS :

Posicionamento e Postura –

O fundamento básico do GR é o posicionamento, pois isso irá facilitar em muito a sua defesa para os remates dos atacantes adversários.
Quando a bola está em zonas que o remate à baliza é uma possibilidade, o GR deve estar preparado com uma postura que facilite dar uma resposta imediata e não ser surpreendido.
O importante na posição de espera/alerta do GR é que seja confortável permitindo uma melhor concentração no jogo. 
O seu posicionamento deve estar sempre condicionado à situação da bola.
O GR deve estar posicionado com os pés afastados na linha dos ombros, mantendo-os sobre uma bisetriz de um triângulo imaginário traçado a partir da bola até aos dois postes da baliza.Em relação à linha de baliza, deve ficar um pouco adiantado, mantendo os braços levemente flectidos, com as mãos ficando um pouco abaixo da cintura. A isto poderemos chamar “fechar o ângulo”.
O GR para optimizar a sua colocação deve ter como referências a linha da área, a marca de penalty e toques nos postes com as mãos, que lhe permitam estar continuamente orientado com a sua baliza.

Blocagem –

Trata-se de deter e controlar a bola com ambas as mãos.
Podemos dividir a blocagem em três tipos, sendo classificados de acordo com a altura a que a bola chega. Alta, Média ou Baixa.
Na blocagem, ambas as mãos devem receber a bola, sendo que em todas as situações deve ser feito com as palmas das mãos, utilizando os dedos para comprimir a bola evitando que ela escape.
Após a blocagem, a bola deve ser levada junto ao corpo para uma maior segurança no seu controle.

  • Blocagem Alta : Deve ser realizada quando a vai acima da linha do peito.
A bola deve ser recebida com ambas as mãos e os braços em forma de triângulo.
  • Blocagem Média : Na realização da blocagem média, os braços ficam flectidos junto ao corpo e as mãos posicionadas acima da cintura, em forma de concha com as palmas das mãos viradas para cima e os dedos a apontar para baixo. Após a recepção a bola deve ser protegida junto ao abdomen.
  • Blocagem Baixa : Na blocagem baixa, o GR deve flectir as pernas, encostando o joelho de uma ao pé da outra para receber a bola.
As mãos devem estar em forma de concha para receber a bola. O tronco é levemente flectido. Atrás das mãos deve ficar sempre uma perna para deter a bola caso ela escape.

Espalmar ou Desviar –

Espalmar ou desviar é o toque na bola com a palma da mão fazendo com que se desvie da sua trajectória numa tentativa de defesa no caso de remates muito potentes e posições que impeçam o agarrar a bola.
O GR deve procurar sempre desviar a direcção da bola para a linha de fundo.

Estiradas ou Quedas –

Executam-se as estiradas ou quedas laterais, com o objectivo de colocar o corpo numa posição favorável que possibilite uma defesa numa bola fora do alcance do GR.
Inclina lateralmente o corpo na direcção da queda flectindo as pernas, porém, mais a de apoio que recebe o peso do corpo e vai dar o impulso e em seguida, estende o corpo direccionando as mãos na trajectória da bola para realizar a defesa.

Deslocamento –

Partindo da posição de espera/alerta, o GR deve deslocar-se lateralmente sem cruzar os pés  e sem encostar um pé ao outro.
O deslocamento numa situação próxima de defesa, deve ser feito na ponta dos pés facilitando o desequilibrio do corpo para uma possivel defesa.

Lançamento –

O lançamento é o passe do GR aos companheiros de equipa, realizado com a mão.
Este passe também constitui elemento básico na construção de jogadas ( saídas de pressão por exemplo) e portanto deve ser seguro, preciso, rápido, oportuno e inteligente, de modo a assegurar ao máximo a posse de bola para a sua equipa.
O GR pode efecturar dois tipos de lançamento com as mãos, por cima e por baixo.
Um de maior potência, onde o GR procura jogar a bola para o atacante no sector ofensivo do campo. O outro, é de menor potência e é usado em distâncias curtas.
No primeiro, o GR ao lançar a bola deve mantê-la na linha do ombro, ao mesmo tempo que realiza uma pequena inclinação do tronco para o lado do braço que irá realizar a acção, auxiliado por uma pequena flexão das pernas. No momento do lançamento, o GR deve estender todo o braço e procurar jogar a bola rente ao solo para possibilitar uma melhor recepção da bola aos companheiros.
Na execução do lançamento com potência é de ressaltar o movimento de flectir o pulso no momento exacto em que o braço está a completar a sua extensão e que antecede a saída da bola da sua mão. Este movimento auxilia a direcção e potência do lançamento.

Saídas –

A saída da baliza por parte do GR é uma situação constante no jogo, principalmente em situações de ataque dentro da área, deve ser rápida e sem hesitação, tendo por objectivo “fechar o ângulo” de remate ao atacante. Para isso,o GR deve “aumentar” o seu tamanho, utilizando os braços e as pernas, para no momento exacto tentar manter a bola sob seu controle.
Nas situações em que o GR sair da área, com a possibilidade de jogar a bola com os pés, deve definir rápidamente o lance, fazendo passe ou chutando a bola para longe.
O GR deve ter consciência que actualmente se pode tornar uma espécie de libero defensivo da equipa.

Defesa com o Pé -

É um recurso para a defesa ao remate do adversário. A defesa com pé acontece quando o GR está em desequilibrio, em deslocamento ou em resposta a remates rasteiros de curta distância.

Jogo de Campo –

O jogo de campo(5x 4 ou GR avançado),acontece quando o GR precisa de sair da área para intervir no ataque planeado da sua equipa, onde se poderá tornar o 5º jogador de campo.
Mesmo que este tipo de situação não seja uma constante dentro do jogo, o GR deve ter noção dos fundamentos técnicos dos jogadores de campo, principalmente o domínio do passe, da recepção e remate.